a obra

a obra corria a passos lentos. o defeito era nos aquecedores. por isso a demora. calefação. gertha arrumou uma equipe especializada para o trabalho, ainda assim se arrastavam. iniciou nos quartos vagos. os dois últimos do corredor. assim que prontos, a velha deve remanejar a moça do cabaré, svetlana, para o penúltimo quarto e para o último deve ir à própria gertha, pois é uma suite. o seu quarto atual é o primeiro do corredor, acredito que seja o pior da pensão. a janela dá para rua. de noite é o barulho dos carros o incômodo. o mal humor da velha se dá devido a insônia. não há outra desculpa para aquela cara feia de todas as manhãs. não é apenas a idade e a sua solidão. o anil dos olhos dela desaparece frente as enormes olheiras abaixo deles. pouco ou nada se sabe da vida amorosa dela. solteirona, viúva? sapatão? sua mãe foi deixada num asilo. o finado marido (pai de gertha) nem esfriado tinha. isso dizem as más línguas. além de espalharem que a velha mãe de gertha era louca. outras, nem tão maldosas, dizem que era mais sã que a própria gertha. faleceu há três anos. passou dos noventa. tobias deve saber de algo sobre essa gente. donos de botequins são como porteiros. sabem de tudo. nos poucos meses da minha estada não descobri nada útil que renda um bom conto pro diário, pois poucos se falam na hora do café. o rabo preso de alguns impede maiores diálogos. 

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