o dia que não teve café

 - senhor aleksei, senhor aleksei! - acordei no susto, não me lembro da noite. sei que era bem tarde da madrugada. ainda estava sob efeitos do vinho que bebi horas antes no bar do tobias e, por pouco não acordei. mas os gritos que chamavam pelo meu nome eram seguidos de fortes batidas na fina portinha do quarto. dei um tapa na luz e outro no roupão, me vesti e meio cambaleante fui até a porta.

- quem deseja? - resmunguei. 

- sou eu, svetlana, rápido senhor aleksei. dona gertha está tendo um mal estar. - diabos! é a moça do cabaré. parecia apavorada. muito provavelmente, a velha gertha deveria estar bêbada e vomitando em seus aposentos. geralmente a vejo, de forma enrustida, passar a mão numa ou outra garrafa de vodka do seu barzinho. 

- um momento, vou vestir algo apropriado, apenas um minuto. já saio. 

ao abrir a porta, svetlana puxou-me pelo braço e arrastou-me em direção ao quarto de gertha.

- arrombe a porta, arrombe a porta! vamos logo, arrombe! - svetlana gritava desesperada em meio a lágrimas. do outro lado da porta, era possível ouvir alguns grunhidos. 

- dona gertha, dona gertha! - tentei chamá-la, antes de uma ação mais violenta. 

- ande logo, seu molóide! eu já a chamei, mas ela não me respondeu! arrombe esta porta de uma vez! - me xingou, a moça mostrava finalmente o seu lado mais animalesco. - que se dane, então!

blaaan!!!!!

num só golpe, quebrei a maçaneta da porta. para nosso pesar, ou sei lá o que dizer num momento desses, com a porta escancarada, vimos uma outra mulher, um bom tanto mais jovem do que gertha. uns vinte talvez. estava nua, do mesmo modo que a velha gertha, que se encontrava amarrada numa cadeira com uma bola dentro de sua boca. diabos!

- aaaaaaaaaaaaaahhhhhhh!!!!!!!!! - um grito rouco, típico de gente que fuma, nos ensurdeceu. era a mulher mais nova,  que rapidamente cobriu-se com um lençol. quanto a gertha, não havia o que fazer. as portas do inferno, foram abertas. era tarde demais. ainda assim, a mulher tratou de tapá-la. eu saí da cena o mais rápido que pude e voltei para o meu quarto. sinceramente, eu não sabia se ria ou se chorava de tudo aquilo. puta que pariu!

com a porta ainda aberta, era possível ouvir os gritos de desacato da velha gertha. estava possuída. ameaçou svetlana, caso abrisse o bico. do contrário, a colocaria para fora, pois sabia o que a moça fazia todas as noites. quanto a outra, não era possível ouvi-la. gertha destratou o mais que pode a jovem svetlana. por deus, como eu queria não ter visto nem ouvido tudo aquilo. que horror! baltazar não presenciou o fato. que sorte, desse maldito.

na manhã seguinte, não foi servido café. também não vi a velha. não vi ninguém. não queria ver. notei que porta do quarto estava escorada. saí da pensão e tomei o rumo da rua. era seis e meia da manhã. 

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