vias de fato

matei o cara. azar. mas não foi o nova como eu havia imaginado. voltando pra casa numa noite dessas, sofri uma tentativa de assalto. barbaridade. ali na borges, voltando do brechó. o sujeito surgiu das sombras com uma faca de cozinha em mãos. foi ai que coloquei em prática os ensinamentos do boxe. apesar de franzino, sei me defender e bem. acertei-lhe um soco no meio da cara, no reflexo e adrenalina da situação. o infeliz, na queda, bateu a cabeça de forma violenta no meio fio. sangrou ali mesmo. vi o sangue saindo de sua cabeça feito uma torneira aberta. corri dali o mais rápido que pude, meio apavorado, meio aliviado... para que não fosse pego em flagrante ou ainda ser linchado por seus comparsas. vai saber. ele deveria ter algum comparsa; hoje em dia nunca se sabe. mas haviam câmeras, muitas delas por sinal. ainda bem.

fui localizado rapidamente. no dia seguinte já fui noticiado no sbt, no bom dia rio grande... na puta-que-pariu. me apresentei na delegacia com um advogado do estado. prestei o depoimento, não fui preso. foi legítima defesa, as câmeras me ajudaram. porém, eu não poderia me afastar da cidade por um tempo até que corresse todo trâmite do processo... raios. 

matar um cara, mesmo que em legítima defesa dá um trabalhão. imagine só matar alguém por gosto. foi assim que desisti de matar o nova. além do mais, no mínimo, eu pegaria uns 30 anos. o cara é famoso. e eu não tenho tanta capacidade mental para criar canções dentro de uma cela. num presídio, uma vez presente, eu teria que cuidar mais do cu do que qualquer outra coisa. ou ainda matar mais gente. escrever, qualquer merda que fosse, seria impossível. já vi em alguns seriados o que fazem com os caras. enfiam o pau até pelo no nariz se der. portanto, mesmo que qualquer literatura faça você querer sair matando alguém, saiba que depois disso, alguém vai te matar e do pior jeito possível começando pela bunda. 

no serviço as coisas ficaram feias pro meu lado. mas o pessoal entendeu. não fui demitido. ainda. mas o pior de tudo isso foi lidar com a jamile. ela se afastou de mim. não me atendeu. não respondeu as mensagens. em lugar nenhum. que merda. eu a entendo. afinal agora eu sou um assassino. pouco importa se foi legítima defesa. eu sei que internamente ela deve ter ficado feliz, por não ter sido eu naquele meio fio... eu a entendo. mas sofro por isso. com sua ausência. já tem vinte dias que não a vejo... que não a beijo. estou ficando louco com isso. preciso de um remédio para conter os nervos. ainda bem que  hoje qualquer médico de postão libera um tarja preta. é só abrir a boca e falar em ansiedade. o brabo é enfrentar duas horas numa fila por atendimento.

Comentários